terça-feira, março 29, 2005

E tudo começou assim...

O "Gênesis" dos filhos da Lua, poema que postarei hoje, deveria - mais que o próprio monólogo dos três - ter sido o primeiro de todos os poemas a ser postado aqui, pois, como sugere o próprio título, conta a história de como surgiram os Três "Heterônimos" (como diria Fernado Pessoa) responsáveis pela maioria dos poemas que aqui estão/estarão publicados.

É bem verdade que a explicação - ou melhor, a "narrativa" - do surgimento dos três passa longe de ser factual, o poema é mais uma alegoria dos sentimentos e pensamentos que envolviam a minha mente quando comecei a escrever sob o nome dos Três, assim, tentar ler literalmente os versos do poema não fará muito sentido. No entanto, com um pouco de imaginação - na verdade empatia - não é dificil de compreender o que se passa(va) comigo nas passagens do poema.

"Gênesis" dos Filhos da Lua
(Welton Luiz)

Eu, nosferático, vago
divago, navego e naufrágo
num lago de ego e maus tratos

"Quasímodo (nada) hercúleo"
trago dentro de mim
solidão e tristeza
que encerro com avareza,
que enterro fundo e assim,
espero que desapareça!

Me ajude! Me encontre! Me acorde!
Me acode! Me ilumine, oh, Lua!!!
preciso de algo que me faça forte
e este algo é a luz tua!

Assim, oro... rogo... peço,
em lágrimas me disperso
me domina a solidão
Lua, onde está a salvação!?

Então...
Beijou-me os ouvidos uma melódica brisa,
recital sonoro de uma p(r)o(f)etisa.
(parecia tão serena e calma)
É ela, Lua, a sacerdotisa?
enviada p'ra salvar esta pobre alma perdida?

(Eram belas e sábias as palavras que proferiu com sua voz linda e cálida)

Cheia de luz cândida e pálida
se aproxima
com a mão estendida
me convida
para acompanhá-la

Me fala de uma vida
muito bela e garrida
e de como poderei encontrá-la

(Naquele momento
já começara a amá-la
curou-me o sofrimento
e provou que minha deusa me amava)

O amor cresceu...
florou...
frutificou...
da semente nasceu
o primogênito da Lua e meu

A natureza, sua madrinha,
o nome lhe escolheu
e Wild Wing, a amar os outros seres
a bondade e a liberdade
com ela aprendeu

Também a beleza a luz do dia
a admirar ele aprendeu
e nas terras, do ocidente, mais antigas
seu amor ele escolheu

De verões e primaveras
o amor viveu
até que Wild Wing e suas quimeras
um irmão recebeu

A noite como protetora ele escolheu
ela, em seus enlaçantes braços o acolheu

Sobre seus filhos e visitantes,
residentes e viajantes
ela o instruiu
e, em meio a estes,
Nocktúrne sua paixão descobriu

(Este ama a mãe mais que tudo
e sempre que tudo lhe parece turvo
é a ela que recorre
é sob seu abraço que se recolhe)

Em meio ao primeiro inverno
algo que dormia
no meu eu mais interno
acordou e rugiu, como a muito não fazia

Este algo guiou-me à reconciliação
fez ainda mais quente e desejoso, o coração meu
e foi assim, que Beowulf, o filho do instinto, nasceu.

(Símbolo da volta do amor
olha os que não amam com certo rancor)
Entre as feras e bestas esqueceu o pudor
aprendeu a viver como caçador

E caça
desamores
mal-amadas
e maus amores
com o faro dos felinos
faz-se concorrente dos meninos
e das meninas seus amores

A mãe Lua tornou ao céu
depois deste tempo
pôs de volta seu véu
para abrilhantar o firmamento

A mim, coube dos filhos cuidar
o amor cultivar
a raiva acalmar
a criatividade incitar
e a inteligência guiar

Mas...
O quem mais espero
(quase me desespero)
são os momentos de amar,
quando a minha doce amada
faz das estrelas escada
e vem aos meus braços deitar.

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